“Cercadinho” na UTI expõe divisão entre aliados de Bolsonaro
Ex-presidente segue como a principal liderança da direita brasileira
Por Naian Lucas Lopes | 25/04/2025 16:01 - Atualizada às 25/04/2025 16:10

Reprodução/X
Jair Bolsonaro tem publicado fotos na UTI
A divulgação de vídeos e fotos do ex-presidente Jair Bolsonaro(PL-RJ) durante sua internação na UTI(Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital DF Star, em Brasília, gerou divisões entre lideranças de sua base política.
O episódio, apelidado de “cercadinho da UTI”, passou a ser criticado por setores considerados moderados do bolsonarismo, que avaliam a exposição como um obstáculo à construção de uma candidatura viável para as eleições de 2026.
Internado desde 11 de abril, Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia de 12 horas no dia 13 para corrigir complicações intestinais decorrentes do atentado de 2018. Embora seu quadro seja considerado estável, ele permanece sem previsão de alta, e os médicos recomendam restrição de visitas.
Apesar disso, vídeos publicados nas redes sociais mostram o ex-presidente acamado, com acesso venoso e monitores hospitalares, além de interações com assessores e aliados.
Pessoas próximas aos governadores aliados, como Tarcísio de Freitas(Republicanos-SP), Ronaldo Caiado(União Brasil-GO), Ratinho Jr.(PSD-PR) e Romeu Zema(Novo-MG), expressaram, de forma reservada, desconforto com a frequência das publicações.
Os grupos desses líderes defendem que o apoio de Bolsonaro é relevante, mas apontam a necessidade de independência para a consolidação de um nome competitivo à sucessão presidencial.
Eles avaliam que a permanência de Bolsonaro como figura central inviabiliza essa estratégia e fortalece a hipótese de que o ex-presidente pretende manter sua família como protagonista política, por meio de Michelle Bolsonaro(PL-DF) ou um dos filhos.
O desconforto também alcança o Centrão, já que parlamentares demonstraram preocupação com o impacto institucional da divulgação de imagens da intimação judicial entregue a Bolsonaro na UTI, na última quarta (23).
A medida, realizada por um oficial de Justiça a mando do Supremo Tribunal Federal, gerou reações nas redes, com o ex-presidente comparando a ação a perseguições políticas.
Deputados relatam que a exposição cria impasses: se o defendem publicamente, enfrentam tensão com o STF; se optam pelo silêncio, sofrem críticas de apoiadores bolsonaristas mais ativos.
Radicais defendem exposição Bolsonaro
Na direção oposta, a ala mais radical do bolsonarismo defende a continuidade da estratégia. Influenciadores e lideranças digitais consideram essencial manter Bolsonaro visível como forma de mobilizar sua base e estabelecer um marcador para distinguir os apoiadores fiéis daqueles que desejam se beneficiar eleitoralmente de sua imagem sem adotar suas pautas.
Aliados mais próximos ouvidos pelo Portal iG indicam que os pedidos para limitar a exposição durante o período de internação foram ignorados.
A tendência é de que o “cercadinho da UTI” continue sendo utilizado como ferramenta de comunicação direta com a base, ampliando as divergências internas sobre os rumos do bolsonarismo nos próximos anos.
Processo

TV Justiça
Bolsonaro foi ver o julgamento no STF
O episódio ocorre em paralelo ao processo judicial que tramita no STF. Em 26 de março, a Primeira Turma da Corte aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República que acusa Bolsonaro de liderar uma tentativa de golpe de Estado.
A investigação aponta a existência de uma organização que atuava desde 2021 para deslegitimar as urnas eletrônicas e planejar a reversão do resultado das eleições de 2022.
O processo envolve outros sete réus, entre eles os ex-ministros Braga Netto, Augusto Heleno e Anderson Torres. As acusações incluem tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa, com penas que podem ultrapassar 40 anos.
A defesa de Bolsonaro contesta as provas e afirma que ele não teve envolvimento direto nos atos investigados.